Quando as coisas simplesmente “foram”

Por Bruna Pratali Tarcitano
 
            Foram três horas de espera pelo ônibus, que depois de tanto demorar, começou a deixar um ar de decepção no Cieps. Foram três horas de espera pelo ônibus, que “sem querer”, atrasou nossa ida ao assentamento Eldorado dos Carajás, para alegrar as crianças e a todos os adultos que se organizavam ansiosamente pela nossa chegada, prevista para às 14h30, no máximo. Foi descuido, tudo “sem querer”, afinal, movimentos populares são tão bem vistos quanto atrasos de três horas.
            Mas chegou o ônibus, como uma luz no fim do túnel. Dessas que traz um sorriso involuntário no rosto de todos os que esperavam. E foi assim que começamos nosso trajeto ao dia lindo que fez no último domingo, dia 9 de novembro, quando deixamos toda a barulheira da cidade e nos deparamos com a harmonia do campo. Pude então perceber que não há atrasos tão infinitos quanto a alegria de atravessar a cidade e olhar em volta.
            Foi minha primeira visita ao assentamento e já tinha sido alertada: as crianças são realmente cativantes. Não conseguia desviar os olhos de seus rostos, tão perfeitos e inocentes. Via em todos uma quantidade de vida tremenda. Eram muitas delas, seguidas de seus pais, avós e irmãos. Toda a cena me arrepiava centenas de vezes, da cabeça aos pés, porque ser criança foi, definitivamente, a melhor experiência que tive em toda a minha vida. Por isso, desviar os olhos daqueles pequenos seria um grave erro.
            Não encontro palavras suficientes, simplesmente consigo dizer que tudo foi. Foi atraso, foi alegria, foi chegada, foi gratidão. Foi arte e teatro. Foi risada e pão de queijo. Foi encontro e carinho. Foi terra e cheiro de árvore molhada. Quando as coisas simplesmente “foram” é maravilhoso. O domingo dia 9 foi história, foi querer voltar.